Friday, August 12, 2011

Atualização da mente - Baixar?.....SIM - NÃO

             Vivemos num mundo novo com uma cabeça velha. Diante da crise de todos os grandes fundamentos e modelos explicativos, ao invés de aproveitarmos a chance de experimentar o vazio que é próprio da nossa existência, ou finalmente criar algo de novo, fazer um pouco de arte contemporânea, nos agarramos às velhas fórmulas do passado já tão gastas e apodrecidas. Todas as instituições, sejam quais forem – políticas, sociais, culturais, familiares, religiosas – querem nos dizer quem somos nós, o que podemos e o que devemos fazer. Em parte por preguiça, em parte por covardia, acreditamos em qualquer lixo sagrado que o passado produziu. Fazemos de tudo para não termos que nos olhar no espelho livres da falsa familiaridade que construímos com aquele nosso reflexo e finalmente encarar a verdadeira questão, a questão que ele nos põe todos os dias, mas da qual fugimos cada vez mais assustados: Quem é aquele estranho nos encarando do lado de lá? E quem é esse estranho para o qual ele olha do lado de cá? Precisamos encarar o estranhamento. O nosso estranhamento.
            Estamos vivos e o que é que nos interessa? Ocupar nosso tempo o máximo possível até que nos esqueçamos por completo de que estamos vivos. Levamos a sério nossas brincadeiras – nossa formação, nosso trabalho, nossas obrigações, nossos deveres. Fingimos, ou – o que é mais triste – acreditamos de fato que o teatro social de cada dia é o que há de mais importante. No resto do tempo nos entregamos aos divertimentos baratos e sem sentido que em nada nos acrescentam. Vivemos na era da diversão barata, ininterrupta, ao alcance de todos todo o tempo e também – paradoxo? – do anti-depressivo. Os bichos que enjaulamos para nos tornarmos esses animais domesticados agora devoram nossas entranhas. Já comeram nossas almas, agora comem nossos nervos. É isso mesmo? É só isso? Uma passagem rápida pelo planeta Terra, com obrigações muito sérias e algum divertimento barato? Uma passagem a mais cômoda possível? A mais apagada possível? É o que? O que estamos fazendo aqui afinal?

             Até quando vamos continuar estabelecendo ligações diretas com o Além? Até quando vamos trocar figurinhas com deuses, almas, espíritos, fadas e fantasmas, anjos e demônios? Até quando vamos continuar acreditando que existe uma ordem moral para o mundo? Que a vida tem um propósito, um sentido? Até quando vamos acreditar que “Freud explica” ou que a ciência prova? Até quando vamos passar adiante a sabedoria que não temos? Lá onde se fala em humanidade, eu vejo zumbis, máquinas programadas, mas não artistas, não pensadores, não grandes personagens. Não há mais protagonistas, só coadjuvantes. Não há mais nada, humanidade? Nada? 




             Atualização da mente: Baixar?


Monday, August 01, 2011

A Filosofia

A Filosofia para mim não é simplesmente o "conhecimento racional por conceitos" das enciclopédias...
Não é um exercício puramente conceitual...
Não é um simples trabalho...

Filosofia para mim é o mergulho vertical nos abismos da existência. É uma atitude rebelde e questionadora diante de tudo o que há. É força criativa e destrutiva. É Arte. É o cultivo incessante de si mesmo enquanto obra de arte inacabada. É o esforço de desenvolvimento progressivo da própria força e da própria coragem. É o investimento permanente de manutenção numa postura afirmativa, inclusiva, que distancia, voa até o alto das montanhas mais altas, olha de longe, em perspectiva, e mergulha, rasante, até os mais profundos e sombrios recantos da existência.

Filosofia para mim é isso. É o desenvolvimento de uma visão de mundo. De uma nova visão de mundo que jamais estará concluída. Uma visão de mundo que amplie os horizontes, que expanda os limites, que vença os vícios e as limitações.

E essa Filosofia não é mero passatempo intelectual. É também carne, sangue e coração. É uma experiência. É a própria experiência de existir.

Monday, May 18, 2009

"Antes" e "Além"

"O ser é, o não-ser não é" - Parmênides

O que vou compartilhar com vocês agora é uma sabedoria milenar, uma matemática simples, muito simples, mas que temos enorme dificuldade em compreender, mesmo com toda a nossa razão e nossa inteligência supostamente privilegiadas .

O que quero dizer é tão somente o seguinte: "O que existe existe, o que não existe não existe". Isso é claro, mas e daí?

Acompanhem comigo: O Mundo existe e isso se prova, porque aqui estamos. Não importa se sabemos o que é o Mundo ou se sabemnos o que somos nós. O fato é que existe, de alguma maneira, este Mundo no qual estamos.

Se o Mundo é o que existe - e é, porque está provado, pelo fato de que o Mundo está aí.. existindo - o que pode estar "além" do mundo? O que não existe.. Algo "além" do Mundo coincide com algo "além" do que existe. E "além" do que existe, está o que não existe. Conclusão: Não existem Mundos "além".

Se o Mundo é o que existe - e é - então o que pode ter vindo "antes" do Mundo? Esta questão também já não deve mais nos preocupar. Porque "antes" do que existe, só pode estar o que? O que não existe. Conclusão: O Mundo é eterno, não foi "criado" por algo que houvesse "antes" dele, porque o Mundo é o que existe, e "antes" do que existe, só pode estar o que não existe.

Mas e todos os deuses, mundos e seres além sobre os quais temos falado e pensado por toda a história da humanidade? Ora, existem sim, claro. Mas, não "lá" no "além", porque não há lado de fora do que existe. Deuses, mundos e seres "além" existem aqui mesmo, como pura Fantasia da Imaginação humana. Meras projeções num muro intransponível, que enquanto assistimos, pensamos que estão do lado de "lá". Mas, não há lado de "lá".

Saturday, May 16, 2009

As palavras

O que é uma palavra? A reprodução de um estímulo nervoso em sons. Mas deduzir do estímulo nervoso uma causa fora de nós já é o resultado de uma aplicação falsa e injustificada do princípio da razão.” - Friedrich Nietzsche

Já pararam para pensar nas palavras que lemos, escrevemos, falamos e ouvimos todos os dias?
Nosso grande problema com as palavras, é que as levamos muito a sério. As palavras são ferramentas úteis que possibilitam e facilitam a comunicação. Porém, acabamos passando a acreditar que os nomes que atribuímos às coisas que “inventamos”, são de fato reais. Imaginamos que as palavras digam a verdade, que todas as construções de frases expressem a realidade do mundo, e que toda esta nossa linguagem tenha verdadeiramente um sentido real.

A crença na verdade das palavras é mais uma fantasia da imaginação. Isso que chamamos "língua" é um conjunto de símbolos e sons inventados pela imaginação para facilitar a comunicação – o que amplia o potencial de desenvolvimento da espécie humana.

Os nomes não são “de verdade”. O fato de chamarmos um objeto de “flor”, não quer dizer que o nome dele seja mesmo “flor”. O fato de chamarmos algo de “árvore”, “cadeira”, “carro”, “pedra”, “mar”, “sol”, “nuvem”, não quer dizer de maneira nenhuma, que estas “coisas” tenham mesmo estes nomes, que sejam seus nomes “de verdade”.

Os nomes das coisas – inclusive o nome “coisas” – são invenções da imaginação e não expressões d’A Realidade. No máximo, podem ser expressões de uma realidade. Isso é muito fácil de comprovar se pensarmos na grande diversidade de idiomas humanos que há aqui neste planeta. Esta variedade se dá porque cada grupo humano desenvolveu um conjunto de símbolos e sons diferente para realizar sua comunicação.

O que falamos tem sentido? As coisas que falamos aparentemente têm sentido. Mas toda a nossa linguagem, em si, não faz sentido nenhum. Só faz sentido porque acreditamos que faça. Pura convenção imaginária.

Portanto, o que são palavras? Ferramentas que a imaginação constrói, para possibilitar e facilitar a comunicação e a compreensão do mundo pelos humanos, ainda que se trate apenas e necessariamente, da compreensão de um mundo fictício.

Interessante, não? Estamos tão acostumados que acreditamos na linguagem. Acreditamos que ela descreva a verdade, que tenha um sentido real...

As palavras forçam o intelecto e o perturbam por completo. E os homens são, assim, arrastados a inúmeras e inúteis controvérsias e fantasias” - Francis Bacon

Thursday, May 14, 2009

"Eu"...

"Eu penso, eu existo" - Descartes

Esta é uma crença que compartilhamos e temos grande dificuldade de colocar sob questionamento. Acreditamos que somos um núcleo fixo e imutável por trás de nossas ações, sentimentos e pensamentos. Um centro de comando cheio de vontades, que faz o que quer e sabe muito bem quais são seus motivos e objetivos, porque é racional e consciente.

Mas, será que é assim mesmo? Vamos pensar: O que é que confere realidade ao tal "eu"? Quem sou eu? Ou, melhor, o que é "eu"?

Um nome? Mas que tem este nome a ver comigo? É uma escolha arbitrária, que nos é imposta no dia de nosso nascimento, legitimada por instituições humanas imaginárias. Pode um nome ser "eu"?

Uma aparência? Mas, quem é aquele estranho que o espelho insiste em nos mostrar?

Uma alma? Mas, se há mais de duzentos anos já sabemos que o que nos anima não é a alma, mas impulsos elétricos cerebrais...

Um corpo, então? Mas, este corpo sou "eu"? Que controle tenho sobre ele? Ele é arrastado por desejos, instintos, gripes, convenções sociais, etc...

"Algo que pensa", como queria Descartes? Mas, sou "eu" que pensa os pensamentos? Os pensamentos vêm e vão, se combinam, se separam, chegam e vão embora na hora que bem entendem... Esta é a verdade. Quantas coisas lembramos mas queríamos esquecer? Quantas coisas esquecemos, mas queríamos lembrar? O mesmo vale para os sentimentos... Sou "eu" que os tenho, ou eles que me têm?

Mas, e a memória? "Eu" lembro! Lembro de tanta coisa! Mas, e tudo aquilo de que nos esquecemos? E tudo aquilo de que nos lembramos não foi já muito alterado, quem sabe totalmente inventado, pela imaginação?

Mas "eu" sou isso e aquilo! Não sou isso e aquilo outro! Gosto disso e não daquilo! Mas estas características não serão também somente fictícias? Marcadas em nossa mente pela força do hábito, da memória e da crença? Afinal, podemos dizer "eu" sou... qualquer coisa, mas isso não será ainda o bastante...

Mas se "eu" não é nada disso, é o que então? A resposta dói um pouco, mas pode também ser libertadora: Ninguém.

"Eu" é apenas uma ficção.

Diante disso, nos resta cantar com os poetas: “Até agora eu não me conhecia / Julgava que era Eu e eu não era” - Florbela Espanca “Não sei quem fui nem sou. Ignoro tudo / Só há de meu o que me vê agora” - Fernando Pessoa

Monday, May 11, 2009

O paradoxo da existência

Ser um sozinho e ser UM com tudo.
Existir é encarnar este paradoxo. É sentir vivo dentro do peito este mistério, este problema sem solução, esta contradição tão absurda e ao mesmo tempo tão real.

Se existimos - e sim, existimos - é como um ser individual sozinho.
Falo da simples experiência de existir e de ser sempre estranho, estrangeiro, sem lugar, único.
A experiência de existir é solitária, é de cada um, sozinho. Sem possibilidade de descrição satisfatória, ou de entendimento completo.

Mas, justamente por ser um sozinho, existindo, já está participando da Existência junto com tudo que existe. Sem separação, sem diferença, sem fronteira. Sendo UM com tudo na Existência.

O que todos temos em comum, o que nos une e nos torna o mesmo é também aquilo que necessariamente nos afasta e nos separa: A experiência de uma radical e irremediável solidão.

Viver é enfrentar este paradoxo. Viver é este paradoxo.

Este paradoxo está presente na obra de Schopenhauer quando formula o mundo do indivíduo que se sente separado, único, só, o Mundo como representação; e o mundo que se apresenta para além das individualidades, no qual tudo é Um, o mundo como Vontade.

Também Nietzsche na obra O Nascimento da Tragédia expressa esta contradição, este permanente conflito, com seus conceitos de apolíneo: impulso de ordem, aparência, beleza, individuação; e dionisíaco: a dissolução do indivíduo que retorna à natureza, já não se sente separado, mergulha no Um primordial, ou: sente-se Um com tudo o que existe.

Ser um sozinho e ser Um com tudo: nossa condição, nossa condenação, nossa contradição. Quem de vocês não sabe do que estou falando?

"ele se sente simultaneamente como indivíduo, frágil fenômeno da vontade, passível de destruição pelo mais débil daqueles golpes, impotente diante da poderosa natureza, dependente, abandonado ao acaso, um nada incomensuravelmente pequeno, em face de poderes colossais; (...)
Contudo tudo isto não se apresenta imediatamente na reflexão, mas se revela como uma
consciência apenas sentida de que, num certo sentido (esclarecido unicamente pela filosofia)
somos uma unidade com o mundo, sua incomensurabilidade não nos oprime, mas nos eleva
" - Schopenhauer

Saturday, January 10, 2009

O Tempo é redondo

"Esse eterno devir nunca acaba? De hora em hora o ponteiro avança, para retornar seu caminho depois das doze" - Nietzsche

O tempo não é, como costumamos pensar, linear. Com um princípio e um fim.

Se assim fosse, restariam sempre algumas perguntas irrespondíveis, como "De onde veio o mundo"? "Qual o princípio de tudo?" E é nessa lacuna que as pessoas, em geral, encaixam aquele fantasma-curinga: Deus. Mesmo a ciência com seu Big Bang, deixa ainda espaço para que se pergunte: Sim, mas e aquela bolinha primordial, densa e quente, que viria a explodir e dar origem ao Universo, de onde veio?

Essas confusões se devem à crença num tempo linear. O Tempo é cíclico. Não teve, portanto, um começo, nem terá um fim. É eterno, infinito para trás e infinito para frente.

Impossível? Não, questão de costume. Há algum tempo atrás, pensava-se que o planeta Terra era plano. Que se fôssemos andando em frente, despencaríamos no horizonte. Hoje sabemos que não é assim. Sabemos que a terra é redonda e que se formos andando sempre em frente, não caímos, damos a volta e assim infinitamente. Sem encontrar o início, nem encontrar o fim.

Assim também é com o tempo. Demoramos muito a descobrir que a Terra é redonda e agora estamos demorando muito a descobrir que o Tempo é redondo.

As teorias mais sofisticadas do próprio Big Bang (Big Bounce), já admitem que após a tal explosão (que na verdade é só mais uma de muitas que já existiram e outras que continuarão existindo), o Universo está em expansão, e que depois entrará no processo inverso, de contração, até chegar ao ponto de ser novamente uma bolinha minúscula (Big crunch), que explodirá novamente, configurando galáxias, planetas, sistemas, como tempos hoje, e assim por diante, infinitamente. Num tempo cíclico, perfeitamente plausível. Assim o Universo não teve um início nem terá um fim. É um movimento infinito de expansão e retração.

Encontramos um tempo cíclico também entre os pré-socráticos, os pitagóricos e algumas tradições hindus, além de no próprio Nietzsche, com seu Eterno Retorno.

Que tal nos acostumarmos com a idéia? O Tempo é redondo. Sem Deus no princípio e nem "julgamento" final.