Monday, May 11, 2009

O paradoxo da existência

Ser um sozinho e ser UM com tudo.
Existir é encarnar este paradoxo. É sentir vivo dentro do peito este mistério, este problema sem solução, esta contradição tão absurda e ao mesmo tempo tão real.

Se existimos - e sim, existimos - é como um ser individual sozinho.
Falo da simples experiência de existir e de ser sempre estranho, estrangeiro, sem lugar, único.
A experiência de existir é solitária, é de cada um, sozinho. Sem possibilidade de descrição satisfatória, ou de entendimento completo.

Mas, justamente por ser um sozinho, existindo, já está participando da Existência junto com tudo que existe. Sem separação, sem diferença, sem fronteira. Sendo UM com tudo na Existência.

O que todos temos em comum, o que nos une e nos torna o mesmo é também aquilo que necessariamente nos afasta e nos separa: A experiência de uma radical e irremediável solidão.

Viver é enfrentar este paradoxo. Viver é este paradoxo.

Este paradoxo está presente na obra de Schopenhauer quando formula o mundo do indivíduo que se sente separado, único, só, o Mundo como representação; e o mundo que se apresenta para além das individualidades, no qual tudo é Um, o mundo como Vontade.

Também Nietzsche na obra O Nascimento da Tragédia expressa esta contradição, este permanente conflito, com seus conceitos de apolíneo: impulso de ordem, aparência, beleza, individuação; e dionisíaco: a dissolução do indivíduo que retorna à natureza, já não se sente separado, mergulha no Um primordial, ou: sente-se Um com tudo o que existe.

Ser um sozinho e ser Um com tudo: nossa condição, nossa condenação, nossa contradição. Quem de vocês não sabe do que estou falando?

"ele se sente simultaneamente como indivíduo, frágil fenômeno da vontade, passível de destruição pelo mais débil daqueles golpes, impotente diante da poderosa natureza, dependente, abandonado ao acaso, um nada incomensuravelmente pequeno, em face de poderes colossais; (...)
Contudo tudo isto não se apresenta imediatamente na reflexão, mas se revela como uma
consciência apenas sentida de que, num certo sentido (esclarecido unicamente pela filosofia)
somos uma unidade com o mundo, sua incomensurabilidade não nos oprime, mas nos eleva
" - Schopenhauer

3 comments:

Trans-Gredindo_{Eu} said...

Belissímo texto


Sds.

AMIGA said...

"Somos Todos Um"

Recomendo este belo filme, que tenta mostrar o que está escrito neste belo texto...

Anonymous said...

Belo texto,
Quando digo: "meu corpo, meu coração, minha alma, meu deus, meu e eu" , talvez o que exista seja tão sòmente um pequeno ego querendo ser e ter mais poderes, que os poderes que atribuímos a Deus.
O que dói é que no fundo, no fundo sabemos que não somos nada, não temos nada de nosso, não temos ninguém com o tão desejado amor incondicional.
Vivemos num mundo que nos arrasta independente da nossa "Vontade", pelas vielas e becos dos desejos e das frustrações.
Parabéns pelos seus textos sempre tão brilhantes.
Epicuro.