Tuesday, December 30, 2008

Para o Ano Novo

Aproveitando o momento, aí vai uma boa reflexão para o ano novo:

"O pensamento está sempre em tensão: com a consciência, a filosofia, a ciência, a técnica, o bom senso, a ideologia, o mito, a religião, a arte, consigo mesmo. Em todas suas tensões o pensamento, sendo um apelo e um desafio de libertação, é logo desprezado. Pois comparado com a moda, nunca está em voga.

Para o desenvolvimento econômico só contribui com o Nada. No mundo dos negócios é um ócio de outro mundo. Na vida do trablho não serve para bater um prego. De fato com todos esses propósitos não se poderia dar melhor demonstração da inutilidade do pensamento.

Realmente, pensar é inútil, caso já esteja decidido, o que é o útil. Realmente, o pensamento é imprestável caso já esteja estabelecido que tijolo e cimento armado são mais reais do que o mistério de ser. Realmente, o pensamento é indesejável, caso já esteja acertado que crescer é aumentar de tamanho ou subir as séries de uma escala. Realmente, pensar é alienante, caso já esteja descontado o que é o homem. Realmente, pnsar é contraproducente, caso já esteja resolvido que o coração é apenas uma bomba e o homem, um tubo digestivo com entrada e saída." - Emanuel Carneiro Leão

É preciso repensar as grandes questões da Filosofia. Quem somos nós? Onde estamos? Para onde vamos? Por que estamos aqui? O que estamos fazendo aqui? O que é a verdade? O que é a Realidade?

Hoje, ou fechamos os olhos para não ver que estas questões, queiramos ou não estão aí, colocadas para nós e as deixamos de lado por julgar que não valem a pena, ou nos utilizamos de respostas velhas, de séculos ou milênios atrás, ainda que estejam caindo aos pedaços.

Estas questões nunca se esgotam, estão sempre vivas porque são a própria tensão, o conflito que é próprio da existência. Enfrentar estas questões é enfrentar nossa própria condição: Existimos! E para isso não há resposta, não há consolo, não há justificativa que baste. Haverá maior mistério neste mundo do que a existência do que existe?

Os tempos mudam, os hábitos mudam, muda a quantidade de informação. E as grandes questões da Filosofia precisam ser repensadas.

Bom Ano Novo a todos.

Saturday, December 27, 2008

Nós, os pensadores, Nós, os artistas

"Às vezes, nosso destino parece
uma árvore no inverno.
Quem pensaria que esses galhos
irão reverdecer e florescer?
Mas esperamos que seja assim,
e sabemos que assim será."

Johann W. von Goethe

Aprendemos a não ter fé em nós mesmos, como se não pudéssemos criar nada de grande, ou até mesmo, como se não pudéssemos em absoluto criar.

Pensar e criar, tornaram-se crimes, pecados, heresias, um desrespeito para com os antigos. "Só eles tinham o direito de criar, só eles têm o direito de ser grandes, Eles sim! Nós, que direito temos de pensar por nós mesmos, de criar algo de novo, de superar, de crescer?" - Assim fala a voz do nosso tempo. Mas, querem saber? Podemos enfrentá-la! Por que não?

Podemos sim pensar! Podemos sim criar! Podemos sim ser grandes artistas e grandes pensadores.

Não desprezemos o que é antigo. Leiam, contemplem, estudem - tudo! Tudo o que há para ler, contemplar e estudar. Mas, não se esqueçam também de pensar e criar.

Friday, December 26, 2008

Os Sofistas

É um posicionamento interessantíssimo o dos sofistas frente à “verdade” ou ao “verdadeiro conhecimento”: O que é a verdade? Tanto faz.

É uma posição tanto de indiferença diante da verdade, quanto de criador ativo da verdade, uma vez que não há verdades absolutas e universais.

Protágoras, um sofista, é autor de uma famosa frase: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são como são e das que não são como não são”. Ou seja, percebemos as coisas como somos capazes de percebe-las. Não captamos verdades existentes, antes as criamos nós mesmos.

Górgias, outro sofista de que temos notícia, á autor de uma belíssima frase sobre a impossibilidade do conhecimento verdadeiro: “Nada existe que possa ser conhecido, se pudesse ser conhecido não poderia ser comunicado, se pudesse ser comunicado não poderia ser compreendido”.

O conhecimento é apenas uma fantasia. Percebo as coisas apenas como posso percebê-las. Não capto verdades absolutas existentes no mundo, interpreto o mundo à minha maneira e invento verdades para ele. Assim “nada existe que possa ser conhecido”. Ainda que pudesse ser conhecido, a linguagem é limitada e não poderia comunicar um “conhecimento” em sua plenitude. Por fim, supondo que fosse possível comunicar o tal conhecimento pela linguagem, não poderia ser compreendido em sua plenitude. Ninguém seria capaz de compreender com total exatidão a informação que recebesse, pois faria uma interpretação própria e assim, o conhecimento verdadeiro, caso houvesse algum, logo se transformaria em outro.

Thursday, December 25, 2008

Penso? Sou? Já não sei

Se penso, não sei se sou
Se sou, já não sei se penso
Muito tempo já passou
Mas não chego num consenso

Penso, em cada vão momento
Mas a dúvida é intensa:
Eu que penso o pensamento
Ou é ele que me pensa?

Memórias que vão e vêm
Na mente, vagando a esmo
Mas será que as tenho mesmo?
Ou são elas que me têm?

Quando sonho, nunca sei
Porque é que estou onde estou
Quando penso que acordei
Sonho ainda, sonho sou.

O que penso que sou eu
Já faz tempo, está perdido
Há um eu que se perdeu?
Talvez nunca tenha havido

Sou um infinito dormir
Lutando para acordar
Sou um sonho a me sonhar
Lutando para existir

Sou mesmo? Será que sou?
Não sei! Nem me importa mais
Se há mundo, se nele estou
Se é sonho ou não, tanto faz

Será tudo fantasia?
Meu eu lírico esqueceu
Se escrevi esta poesia
Ou se ela que me escreveu.

Monday, December 22, 2008

Se é pra ser.. que seja intenso

Se fôssemos nós seres de atenção, se preferíssemos as novas descobertas aos velhos hábitos, poderíamos talvez facilmente reparar que o que chamamos "Realidade" é uma ilusão.

Uma simples ilusão. E reparem que é daquelas ilusões que nem exigiriam muito esforço, habilidade ou anos de prática a qualquer ilusionista mediano. É daquelas mágicas que se faz para crianças pequenas, mas que qualquer platéia de adultos atentos, rapidamente descobriria o truque. E assim somos nós frente aos truques do mundo que se nos apresentam: uma platéia de crianças, com a pouca – ou nenhuma? – capacidade de se admirar de um adulto.

Isso é grave. Se não é grave, é triste. Perdemos a capacidade de nos admirar! Mesmo num mundo cheio de truques, cheio de perguntas sem resposta, cheio de mistério, pouco nos surpreendemos. Pouco nos interessamos. Pouco nos aprofundamos.

Tornamos em tédio, preguiça e rotina, o que deveria ser a incrível a maravilhosa descoberta de cada dia. Tornamos em peso, vazio, melancolia, o que poderia ser alegria, liberdade, curiosidade. Tornamos em superficial e monótono, o que poderia ser profundo e intenso.

Talvez por medo do desconhecido da profundeza, talvez por pura preguiça. Talvez por medo da intensidade da dor. Afinal, ser intenso, é sentir também dor intensa. Fomos então, cada vez mais para a superfície, a fim de evitar a dor profunda. Ficamos contentes, por fim, por sentir superficialmente, ao ver quanto era mais fácil superar a dor superficial.

Hoje, nos tornamos superficiais, e não nos condeno por isso. Quem sabe o que é a dor intensa, sabe o quanto é difícil superá-la e o quanto pode ser vantajoso trocá-la pela dor superficial. Pois bem, nos tornamos superficiais: vivemos superficialmente, pensamos superficialmente, sentimos superficialmente. Tudo por medo da dor intensa.

Agora eu lhes pergunto: Será que vale a pena sacrificar a alegria intensa, por medo da dor intensa? Será que vale a pena sacrificar todo o intenso pensar, o intenso sentir, o intenso existir, somente por medo da intensa dor?

Saturday, December 20, 2008

O cérebro artista

Que é nosso Mundo Real? Que são as “coisas” que vemos e tocamos? Que são suas formas e cores? Que são os sons que ouvimos? Os odores que sentimos?



Trata-se apenas de estímulos recebidos por nossos órgãos dos sentidos, transformados em impulsos elétricos que são enviados a determinadas regiões do cérebro onde estimulam determinados grupos de neurônios que por fim traduzem estes impulsos em imagens, formas, cores, cheiros, sons, enfim, constroem nossa percepção.



Segundo Rita Carter no Livro de Ouro da Mente: Cada um dos “nossos órgãos dos sentidos – olhos, ouvidos, nariz, língua e receptores somatossensoriais na pele (...) está intrincadamente adaptado a lidar com seu próprio tipo de estímulo: moléculas, ondas ou vibrações” e prossegue: “cada órgão realiza essencialmente a mesma tarefa: traduz seu tipo particular de estímulo em impulsos elétricos”. “Todos os estímulos sensoriais, portanto, entram no cérebro de maneira mais ou menos indiferenciada, como um córrego de pulsos elétricos criados por disparos dos neurônios, como um dominó, ao longo de uma determinada rota (...) O que faz um córrego se transformar em visão e outro em olfato depende (...) de quais neurônios são estimulados”.



Sendo assim, a realidade é uma fantasia, uma obra de arte. Nosso cérebro é um artista, que em sua relação com o mundo, cria imagens, sons, gostos, texturas, nomes, sentidos, etc.

A Realidade II

Nossos sentidos estão ligados à atividade de certas áreas do cérebro.

Nossos olhos, por exemplo, são apenas as lentes, a visão é possibilitada por uma reação química-física-biológica da área do cérebro correspondente à visão. E assim é com todos os sentidos.

Poderíamos dizer que nossos sentidos “percebem” o mundo, não que “captam” a realidade. Porque nesta última proposição, parece que há uma realidade fixa, imutável, verdadeira, a qual eles são capazes de captar tal como realmente é. Porém, o que nossos sentidos – e nosso cérebro – fazem, é “perceber” o mundo, tal como podem percebê-lo.

Cada cor, cada forma, cada cheiro são apenas uma percepção humana. Seria muita pretensão de nossa parte, supor que o que vemos, o que ouvimos, o nosso tato e até os nomes que inventamos, sejam A Realidade, à qual só nós, os animais superiores, temos acesso assim, perfeitamente. Se enxergássemos em “preto e branco”, pensaríamos que todas as coisas têm apenas estas cores, e nossa percepção da realidade seria bem diferente.

Agora, não sei quantas cores exatamente podemos distinguir, mas o fato de percebermos as muitas cores que percebemos, não significa que as coisas tenham “realmente” estas cores, nem significa que não existam muitas outras que somos incapazes de perceber e caso fossemos, nossa percepção seria diferente do que é. Assim como também seria se tivéssemos uma visão microscópica, por exemplo, ou uma capacidade menor de audição.

Sunday, December 14, 2008

O que é Realidade?

Chamamos de realidade, a princípio, tudo o que existe “de verdade”, ou seja, tudo o que existe no “mundo real”, ou ainda, o que existe em nosso mundo, este no qual vivemos. E para nós, o que é que existe “de verdade”? Tudo aquilo que captamos com nossos sentidos. Tudo o que podemos ver, tocar, ouvir, etc. E, é importante ressaltar, tudo o que podemos captar através dos nossos sentidos, e que todas as outras pessoas podem captar também, desde que estejam com os sentidos funcionando em perfeitas condições.

Falo isso, pois existem alguns ditos “distúrbios psicológicos”, que fazem nossos sentidos captarem imagens ou sons, por exemplo, que outras pessoas não podem ver ou ouvir. De modo que se eu tiver um amigo imaginário que eu veja todos os dias e converse comigo sempre, por mais que eu o tome por “real”, a opinião comum e geral, jamais vai considerá-lo como um ser existente que faz parte da realidade.

Da mesma forma, disse “tudo o que existe no mundo real”, no “nosso mundo”, porque ninguém pode negar que os personagens dos contos de fadas existam, porém existem apenas no “mundo da imaginação”, no “mundo da fantasia”. Isso porque jamais alguém, em tempo algum, pôde captá-los através dos sentidos no mundo – vê-los, tocá-los, conversar com eles, interagir com eles – a menos que tivesse um daqueles “distúrbios” psicológicos. Separamos então claramente em nossa mente “mundo real” de “mundo da imaginação”. Mas serão os limites desta fronteira tão claros assim?

Friday, December 12, 2008

Temos escolha? Ou um destino pré-traçado?

Parece um mistério insolucionável. Alguns afirmam que a escolha é nossa. Outros, que está tudo escrito no "Livro Preto" do Destino. Outros ainda, vivem em dúvida.

Mas, afinal, temos escolha ou temos Destino?

Escolha? Mas posso escolher não adoecer? Não sentir calor no calor? Não sentir frio no frio? Não morrer? Não me apaixonar quando há paixão? Não cair quando levo um tombo? Ora... Escolha é pura ilusão de controle.

Destino? Ora, por que? Os gatos, os tigres, as formigas e os leões têm um Destino? Então por que haveríamos nós de ter?

Então... Nem um nem outro. Não sou "eu" que escolho e nem tem "alguém" que escolha por mim.

O que acontece é que uma conjunção única de incontáveis circunstâncias nos levam para um lado ou para o outro. Sendo que por vezes, parece que fomos nós mesmos que escolhemos e em outras ocasiões, parece até obra do Destino.

Como assim, circunstâncias? Tudo o que há é circunstância. Pensamentos, sentimentos, crenças, o clima, as relações sociais, afetivas, familiares, as condições físicas, biológicas, materiais, as construções culturais (etc).

Tudo o que há e circunstância. E a associação de incontáveis circunstâncias dos mais diversos tipos é que nos leva, por puro acaso, a fazer isso ou fazer aquilo, a seguir - ou não - tal ou qual caminho.

Portanto, não sou "eu" que escolhe nem tem "alguém" que escolha por mim. Tudo é por acaso.

Thursday, December 11, 2008

Fernando Pessoa

Aí vai um poema de um dos "eus" deste gênio: Fernando Pessoa

Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que ideia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

«Constituição íntima das cousas»...
«Sentido íntimo do Universo»...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.

Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores, É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

Alberto Caeiro

Wednesday, December 10, 2008

O Ceticismo

"O resultado natural de qualquer investigação é que aquele que investiga ou bem encontra o objeto de sua busca, ou bem nega que seja encontrável e confessa ser ele inapreensível, ou ainda, persiste na sua busca. O mesmo ocorre com os objetos investigados pela filosofia, e é provavelmente por isso que alguns afirmaram ter descoberto a verdade, outros, que a verdade não pode ser apreendida, enquanto outros continuam buscando. Aqueles que afirmam ter descoberto a verdade são os 'dogmáticos'; assim são chamados especialmente, Aristóteles, por exemplo, Epicuro, os estóicos e alguns outros. Clitômaco, Carnéades e outros acadêmicos consideram a verdade inaprensível, e os céticos continuam buscando. Portanto, parece razoável sustentar que há três tipos de filosofia: a dogmática, a acadêmica e a cética." - Sexto Empírico.

O ceticismo não é negar a verdade. Isso seria um dogmatismo ao contrário.
Nem partir do princípio de que a verdade está "escondida" e que não podemos jamais encontrá-la.

Ceticismo é suspender o juízo, ou seja, diante de duas possibilidades opostas, ao invés de partir de uma ou de outra, por exemplo, afirmar ou negar a veracidade de tal fato, simplesmente recorrer a um ponto terceiro, além dos dois: o ponto de indiferença. A partir deste ponto, os dois opostos tornam-se equivalentes, indiferentes. Ou seja, tanto faz. Ambos são verdadeiros, ambos são falsos.

Cabe ver qual é mais eficaz aqui e agora. Sem verdades absolutas que devam ser seguidas, sem valores superiores que nos obriguem a agir de tal ou qual forma.

Ceticismo é não se acomodar nem mesmo no "não há verdades", é simplesmente continuar buscando, continuar investigando, continuar em constante mutação, em transformação, acompanhando o movimento da própria existência, que não cessa.

Ceticismo é partir da dúvida. É partir do seguinte: Toda verdade pode ser questionada.

Ceticismo é saltar para além de um ou outro lado, é viver "além de bem e de mal". Enquanto há dualidade, é porque não estamos ainda vendo além.

Ceticismo é não aceitar nada como verdadeiro ou falso a princípio. É não aceitar os limites, é não se deixar aprisionar.

"Um espírito que quer algo de grande e que também quer os meios é, por necessidade, cético. O que a força implica é a liberdade com relação a convicções de toda espécie, a capacidade de observar livremente..." - Friedrich Nietzsche

Tuesday, December 09, 2008

"A vida é sonho"

Por que fazemos o que fazemos? Já pararam para pensar? Por que dormimos numa cama? Por que nos levantamos de manhã? Por que saímos de casa? Por que voltamos sempre para “nossa casa”? Por que bebemos água num copo? Por que comemos o que comemos, na hora em que comemos? Por que vamos, ou não vamos, trabalhar? Por que estudamos, ou não estudamos? Estamos sempre em relação com tudo. Estamos sempre fazendo, ou não fazendo alguma coisa. Por que? Por que fazemos o que fazemos? Porque temos que? Mas será que temos mesmo? Quem disse? Porque tem que ser assim? Mas será que tem mesmo? Quem disse? Por que é bom? Mas será que é bom mesmo? Quem disse? E o que acreditamos que não podemos fazer? Será que não podemos mesmo? Será que uma proibição de qualquer tipo é uma barreira assim tão rígida? Será que as fronteiras do nosso mundo mental são assim tão bem definidas? Não seriam elas estabelecidas por pura convenção? Será que o mundo nos impõe alguma ordem? Por que fazemos o que fazemos? Porque assim é A Realidade? Ou será porque nos é, de alguma forma, conveniente?

Todos os dias acordamos dentro de um sonho. Quem nunca teve a experiência, de numa noite de sono, durante um sonho qualquer, ter a nítida sensação de acordar, mas depois ver que ainda está sonhando? Pois é isso que fazemos todos os dias. Temos a nítida sensação de acordar, mas continuamos sempre sonhando.

Vivemos um sonho! Acordamos num sonho, dormimos num sonho, sonhamos num sonho, tudo é sempre sonho. Mas, ingenuamente, quando acordo, penso que estou n’A “Realidade”, e que “Realidade” é bem diferente de sonho. Mas, isto que chamamos “Realidade” é um sonho, é Fantasia. Não há “Realidade”.

E quem sonha este sonho, sou “eu”? Ah, não! Pois que “eu” já sou eu mesmo um sonho. Não há este “alguém” que sonha. Há sonho, e sou dele personagem. Não sei bem quem sou, não sei bem onde estou, não sei bem o que faço, não sei bem porque faço o que faço. Forças me impulsionam e vou ou não vou, faço ou não faço. Represento papéis imaginários em cenários imaginados. Um sonho...

Monday, December 08, 2008

A permanente impermanência

"Tudo passa" - Heráclito

A existência é conflito, é luta, é impermanência, é movimento, é constante mutação, transformação, é um eterno vir-a-ser.

Nós tentamos entender o que está acontecendo, tentamos tornar o mundo algo conhecível, algo concebível, algo minimamente confortável. Tentamos dar conta do conflito interminável do mundo com formas permanentes, nomes, conceitos, teorias, lógicas.

Mas, a existência permanece indiferente, persiste em ser este movimento contínuo, sem razão, "além de bem e de mal", sem formas estáticas, indefinível, inapreensível.

A existência é o vento, as árvores, a terra, as nuvens, as ondas, a correnteza do rio... Tudo em constante conflito, movimento e equilíbrio.

A única certeza é que tudo passa, a única coisa permanente é a impermanência. O que fica de imutável, eterno, universal, absoluto é o próprio conflito, o movimento, a transformação.

No meio disso tudo, nós, a espécie louca.. O animal que pensa, que sabe, que sente, que sofre, que sonha, que fantasia..

Existimos! E não podemos não existir. Não podemos parar o movimento, não podemos acabar com o conflito, não podemos saltar para fora do jogo, não podemos sumir, não podemos nem sequer "ser", apenas devir!

A grande questão é... Que fazer com tudo isso?

Existir, afirmar o conflito, sentir, sofrer, sorrir, contemplar, viver, fantasiar... Viver o que há pra viver... Vivamos o que há de belo neste sonho.

Sunday, December 07, 2008

Que nos ficou do que não fomos?

Que nos ficou de tudo aquilo que não fomos” - Emílio Moura (Poeta)

Parece um erro este saber que existo. Por que não podemos simplesmente existir, sem precisar saber? Citando Fernando Pessoa: “Se existo, é um erro eu o saber”. Quem sou este “eu mesmo”? Quem foi este “eu mesmo”? De todas aquelas coisas que julguei ter sido, será que fui mesmo alguma delas? Se fui, por que não sou mais? É mesmo impossível definir “eu mesmo” de qualquer forma que seja do tipo: “Eu fui isso, eu fui aquilo”. É impossível saber até mesmo o que sou agora mesmo. É difícil de aceitar, mas não há nada de mais estranho para nós do que “nós mesmos”. Este “eu mesmo” não existe, é um outro.

“Eu mesmo” sou um produto de todos os acasos que me aconteceram, me construíram. “Eu mesmo” sou um efeito, de tudo o que vi e que não vi, ouvi e não ouvi, de todas as coisas que pensei e não pensei, de todas as escolhas que fiz, de todos os caminhos que segui e que não segui, de tudo o que falei e que não falei, que fiz e que não fiz! Sou eu! O efeito disso tudo. O único efeito possível desta combinação única de acasos. Não fui nem sou causa de nada disso, mas efeito! Não fui, “eu mesmo”, nada disso. Tudo simplesmente aconteceu, por puro acaso e de forma tão natural quanto sentir frio no tempo frio. Todas as dores e alegrias, esperanças e desesperanças, crenças e descrenças... tudo aconteceu naturalmente e acabou me construindo.

“Eu mesmo” não fui nada daquilo que pensei ter sido. Nenhuma coisa de que eu tenha gostado ou que eu tenha feito ou sentido, serve para me definir. Nem eu fui – nem sou – a causa, o agente, o sujeito de coisa nenhuma. Fui e sou antes o efeito, o produto, a obra!

Mas, se não fomos nada daquilo que nos contam nossos fragmentos de lembranças, e agora somos o produto de todas estas coisas que não fomos, destes simples acasos... cabe então perguntar: “Que nos ficou de tudo aquilo que não fomos?

Saturday, December 06, 2008

O Mundo da Imaginação

"A imaginação governa todas as suas idéias e pode uni-las, misturá-las e variá-las de todas as
formas possíveis. Pode conceber objetos fictícios em todas as situações de espaço e de tempo.
Pode colocá-los de certa maneira diante de nossos olhos com suas próprias cores, exatamente
como se houvessem existido
." - David Hume

Vivemos no Mundo da Imaginação.
Como assim? Por que? Como afirmar uma coisa dessas?
Ora, tudo o que sabemos é fruto da imaginação. Tudo o que pensamos, poderia-se dizer com mais coerência que "imaginamos" - “Nada se sabe, tudo se imagina” (Ricardo Reis). Todas as nossas Verdades são Fantasias da Imaginação. Todo o nosso mundo tem sido dirigido por esta estranha senhora - A Imaginação - que nos faz tomar as maiores loucuras por normalidades e as coisas mais normais por grandes absurdos.

Exemplos? Ah, são tantos... São todos! É tudo que vocês puderem pensar.

Ou nunca pararam para pensar que o dinheiro, por exemplo, é só um pedaço de papel colorido? Mas imaginamos que ele tenha grande valor, e compramos tudo com ele. Trabalhamos duro por ele. Até nos matamos por ele. Não é verdade?

E o nome de vocês? Nunca pararam para pensar porque "seu" nome é esse? Por que não é um outro? E por que vocês carregam ele a vida inteira? Pura imaginação... Seus pais imaginaram este nome para vocês um dia e desde então todo mundo - inclusive vocês - imaginam que este é o "seu" nome. E só te chamam assim. E ainda dizemos todos orgulhosos: Eu "sou" tal nome. É?

E o nome da rua de vocês? E as fronteiras terriroriais que imaginamos que estão mesmo lá onde os mapas dizem que estão? E toda a estrutura social? E as leis? E os conceitos? E os valores? E as classificações? E a linguagem? E o calendário? É tudo "de verdade"? Ou ainda não pararam para pensar?

Nosso Aparelho Mental é delirante. Vivemos no Mundo da Imaginação.

Friday, December 05, 2008

Qual é o modelo que devemos seguir?

É natural que, de quando em quando, nos façamos esta pergunta. Se não exatamente assim, por meio de variantes como: O que devo fazer? Como devo agir? Tenho agido mal? Tenho agido certo?

E estamos tão acostumados a pensar dessa maneira, que nem nos damos conta do tamanho dos pré-conceitos camuflados na pergunta: "Qual o modelo que devemos seguir?"

Esta simples questão pressupõe duas pequenas verdades absolutas herdadas da tradição platônica e cultivadas pela tradição cristã:
1 - Há um modelo verdadeiro, perfeito, absoluto.
2 - Ele deve ser seguido.

Caso não estejam familiarizados com as teorias de Platão:

A questão do modelo é a base da Filosofia de Platão. Para ele, o mundo que vemos, percebemos e no qual vivemos, é ele mesmo e cada elemento seu, uma cópia imperfeita de um modelo perfeito, único e real. A estes modelos perfeitos, deu o nome de “Idéias” e descreveu até um “lugar” para elas: O Mundo das Idéias. Para ele, o mundo real. Reafirmando para ficar claro: O mundo real é o mundo das idéias. O mundo no qual vivemos é apenas um cópia do primeiro.

Ao nosso mundo, deu o nome de “Mundo Sensível”, porque percebemos tudo aqui através dos sentidos. De fato, nossa percepção aqui é construída com base no que vemos, ouvimos, tocamos... E segundo Platão, nós, cópias imperfeitas, através dos sentidos, só poderíamos mesmo obter um conhecimento imperfeito de cópias imperfeitas dos modelos perfeitos do mundo das idéias.

Já no Mundo das Idéias, o qual chamou “Mundo Inteligível”, é onde poderíamos obter o verdadeiro conhecimento, contemplando as idéias imutáveis e perfeitas através da inteligência e da alma. Talvez, “obter” o conhecimento não seja o termo mais preciso. Melhor seria dizer “relembrar” o conhecimento, já que Platão acreditava que nossa alma conhecia anteriormente o "mundo das idéias", porém, antes de vir para nosso corpo e nosso mundo, tivera de beber do “rio do esquecimento”, cujo efeito, todos já podem imaginar. Muito bem, prosseguindo as descrições e diferenças dos dois mundos: enquanto aqui as cópias são múltiplas e mutáveis, as idéias são unas e mutáveis. Por exemplo: existem diversos tipos de caneta, mas o que faz com que quando vemos uma caneta, a reconheçamos como sendo caneta, é a existência da idéia una e imutável de caneta, no mundo das idéias.

Platão imaginou ainda, uma idéia superior. Uma idéia suprema. Assim como o sol fornece a luz que nos permite ver, esta idéia fornece à inteligência a luz que nos permite conhecer: A idéia de Bem. Fica claro assim, que na filosofia platônica, há um modelo para tudo. Há sempre modelos que devem ser seguidos. Há um modelo de justiça, um modelo de bondade, um modelo de beleza... E a tarefa mais relevante e nobre que poderíamos empreender, seria contemplar os modelos para nos aproximarmos o máximo possível deles em nossa vida, em nossos pensamentos e em nossas atitudes. Esta é a base da filosofia de Platão. Esta crença no “modelo” – verdade única, perfeita, imutável e universal – é continuada e reafirmada pelo milênio de dominação cristã do pensamento ocidental na Idade Média.

Nós, que - sabendo ou não, querendo ou não - temos nossas cabeças formatadas pela tradição platônico-cristã, vivemos nos perguntando: "Qual o modelo que devo seguir?"

Mas, parem para pensar: Há mesmo modelos? Há alguma necessidade de haver modelos? E quem pode dizer que este mundo no qual vivemos não é perfeito assim mesmo como é? Por que essa necessidade de imaginar um mundo verdadeiro, um mundo além, onde tudo é uno e imutável? Por que não reconhecer a perfeição neste mundo de mudanças e contradições em que vivemos?

Qual o modelo, portanto, de normalidade? E o modelo de sanidade? Qual será? Que são todos os loucos, afinal, se não pessoas que não seguem o modelo que não existe?

Como dizer que existe um modelo verdadeiro? Ora, não há modelos que devam ser seguidos!

Antes então de nos perguntar qual o modelo, ou se o estamos ou não seguindo, paremos para pensar: Por que tem de haver um modelo?

Thursday, December 04, 2008

A verdade delirada em constante mutação

"A “verdade” não é, conseqüentemente, algo que exista e que devamos encontrar e descobrir — mas algo que é preciso criar" - Nietzsche

Demorei um pouco a compreender esta frase. Mas depois de algum tempo, percebi o quanto ela é importante para pensarmos sobre a verdade, a realidade e o conhecimento.

Não há uma verdade no mundo que devamos procurar e que possamos descobrir. O que fazemos é inventar verdades para o mundo.

Porém, não é tão simples. A partir de tudo o que vimos, ouvimos, vivemos, experienciamos, lemos, aprendemos... criamos verdades para o mundo. Em seguida, podemos bombardear nossas próprias verdades com dúvidas e questões, verificar constantemente se são ou não compatíveis com a nossa atual configuração da Realidade. Verificar se as verdades que fantasiamos servem para explicar a Realidade que percebemos, incluindo todos os seus elementos, todas as informações que podemos ver.

Se sim, nossas verdades servem - por enquanto. Até que nossa realidade se reconfigure com novas percepções, informações e circunstâncias.

Se não, elas não servem e podem ser ampliadas, aperfeiçoadas ou simplesmente descartadas.

Portanto, não é preciso acreditarmos em quaisquer verdades que sejam. Basta utilizá-las enquanto servem. Sem esquecer de submetê-las sempre ao questionamento e à dúvida.

Este processo me parece ser infinito. Afinal, só paramos quando acreditamos cegamente numa verdade, quando julgamos ter encontrado a "Verdade Absoluta" do mundo, esquecendo, assim, que a verdade, seja qual for, não foi "encontrada", mas inventada, delirada.

Wednesday, December 03, 2008

A Importância da espécie humana...

Viagem comigo por um momento. Vamos voar, subir, subir, até o espaço, contemplar nosso pequeno e belo planeta azul. Se afastem um pouco mais, até que ele fique do tamanho de um pontinho. Agora imaginem ali, naquela bolinha azul, todos nós. Bilhões de pessoinhas, todas as nossas construções, prédios, casas, estradas, carros, aviões. Mas não volte ainda: Veja tudo isso lá do espaço. Veja quantas pessoas, cada uma mergulhada no mundinho de sua própria vida, quantos problemas, quanta agitação. Ah, veja as pessoas... o quanto se preocupam. Dormem, acordam, comem, tentam ganhar mais dinheiro, correm, vão sempre muito sérias e apressadas. Veja tudo lá de cima. Tudo isso não parece uma espécie de sonho? Pois talvez não pareça... Qual a diferença desta vida que vivemos, para um sonho que sonhamos, afinal?

“Quem sabe se essa outra metade da vida em que pensamos velar não é um outro sono um pouco diferente do primeiro, do qual despertamos quando pensamos dormir?” - Blaise Pascal (Pensamentos)

Para quem ainda não assistiu, aí está o link para o vídeo "Pálido Ponto Azul", com um texto de Carl Sagan. Sendo ele astrônomo, pôde certa vez registrar uma imagem na qual o planeta Terra aparece como um pontinho minúsculo num cantinho do Universo. “Nosso planeta é um pontinho solitário na grande e envolvente escuridão cósmica” - Carl Sagan

http://www.youtube.com/watch?v=EjpSa7umAd8

Tuesday, December 02, 2008

Contra a crença

"As convicções são prisões" - F. Nietzsche (O Anticristo)

Quando falo em crença, não estou me referindo apenas às religiões.
Crença é toda e qualquer idéia que se toma por verdadeira e real a princípio. Algo que, portanto, para quem acredita, não precisa de argumentos racionais ou fatos empíricos para se comprovar. Se aquele que acredita se utiliza de argumentos é apenas para defender sua verdade e não para demonstrá-la.
Por isso, é muito comum que os argumentos que defendam a veracidade de uma “crença” sejam tão absurdos, ilógicos e que não façam nenhum sentido para quem olha de fora desta mesma crença, e ainda que nos utilizemos de milhares de argumentos que julgamos ser os mais sensatos, lógicos, bem construídos, para tentar dissuadir alguém de uma crença - e ainda que todos os fatos da experiência estejam contra esta mesma crença- a pessoa é capaz de refutar cada sensatez com absurdo e sair bem satisfeita, acreditando ainda mais no que acreditava antes.
E o que é uma crença? Uma verdade absoluta? É claro que não. A crença não é critério de veracidade. A crença é uma idéia que se cristaliza na mente, envolvida por uma barreira rígida, cercada por uma fortíssima proteção. Por isso é tão difícil quebrar uma crença, ou mesmo simplesmente questioná-la. São necessários, às vezes, anos de tentativas, exercícios, trabalho para romper, nem que seja minimamente, a barreira de uma crença.

Por tudo isso, as crenças aprisionam. Nos induzem não somente ao erro, mas à insistência no erro e mais: à defesa apaixonada do erro. As crenças, como são tomadas por "respostas verdadeiras", matam a capacidade de questionar, de buscar, de crescer! As crenças limitam, acomodam.

E daí?

Quanto menos aprisionamentos nos impomos, maior nossa capacidade de contornar os revezes, enfrentar os tormentos, mudar de rumo, mudar de arrumação, fazer alguma coisa, não fazer alguma coisa.

Além do mais, para aqueles que querem entender, investigar, conhecer, buscar... as crenças são poderosas inimigas.

Em quantas coisas acreditamos? Quantos absurdos temos tomado por verdades?

Lembrem-se então:
Aquela mesma estranha capacidade de imaginação que cria verdades e realidades, nos fornece também a ferramenta que nos permite saltar para além delas: o questionamento. Toda verdade é imaginária e pode ser questionada.

Monday, December 01, 2008

Do mito à razão...

Toda a nossa filosofia é uma filosofia do Mundo da Imaginação. É uma busca ferrenha por essa fantasia chamada “conhecimento”, e mais ainda, uma busca pelo “conhecimento verdadeiro”, como se houvesse um conhecimento verdadeiro.

O surgimento da filosofia se dá na Grécia, em VI a.e.c. (antes da era comum), num acontecimento que tomamos por um pequeno “milagre”, uma espécie de “salto de evolução” que chamamos a “passagem do mito à razão”. Numa época em que os deuses eram a explicação de tudo, passa-se a buscar explicações racionais para o mundo e as coisas do mundo. “Passagem do mito à razão”... Acho que valorizamos demais este acontecimento. Ele é antes uma passagem do mito ao mito. Do mito do conhecimento das forças divinas ao mito do conhecimento pelas forças da razão. Ambos, entretanto, têm a mesma origem: A imaginação.

Num momento se imagina que há deuses e forças divinas, no outro, que há “conhecimento verdadeiro”, que há “verdade” e que podem ser obtidos através da razão. Ambas as formas de tentativa de explicação do mundo, são apenas invenções da imaginação. Ambas são uma espécie de “conhecimento” e este tal conhecimento é ele mesmo uma invenção, uma espécie de sonho. Enfim, como bem disse o filósofo Jean-François Lyotard, “O triunfo da razão não passa de uma história que nos contamos”.